Por. Walter Vieira Junior*
Partindo
da compreensão de Jürgen Habermas em sua teoria da Ação Comunicativa, o sujeito
é parte de um processo que está além do seu “conhecimento fechado” mas se torna
amplo no momento em que somos seres relacionais.
A partir dessa máxima, à luz da compreensão
da Teoria da Ação Comunicativa, desenvolveremos uma pequena analise reflexiva
sobre a visão de cidadania e participação no âmbito escolar.
Um problema bastante corrente
está na maneira em que concebemos uma ideia, devido a nossa visão de mundo,
devido a nossa capacidade de assimilação do diferente, devido até, e talvez, principalmente
o nosso ouvir. Tamanha é a necessidade de se comunicar e de se fazer comunicar.
Mediante a nossas experiências somos
convidados a assumir certos papeis sociais que ao longo do processo
civilizatório foram se transformando, afinal, somos seres em uma constante
mudança. O mundo em nossa volta muda, as culturas e sociedades mudam, o nosso
corpo muda. Mas o que isso tem a ver com o meu pensar sobre os outros? Tudo.
Em Habermas, o mundo da vida, conceito que ele usa para
fundamentar sua Teoria Ação Comunicativa, se dá em três componentes estruturais:
Cultura, sociedade e pessoa. A cultura aqui é entendida como o estoque de conhecimento
do qual os atores suprem-se de interpretações quando buscam a compreensão sobre
algo no mundo; já a sociedade, como as ordem legitimas, através das quais os participantes
regulam suas relações no grupo social; Pessoa é entendida como as competências que
tornam um sujeito capaz de falar e agir, ou seja, de compor sua própria
personalidade (Habermas, 1987a).[1]
Segundo o professor José Marcelino
de Rezende Pinto “para Habermas, existe uma correlação direta entre ação
comunicativa e mundo da vida, já que cabe à primeira a reprodução das
estruturas simbólicas do segundo (cultura, sociedade, pessoa).” Logicamente essa
proposta de uma razão pautada na comunicação intersubjetiva, é sem sombra de
dúvida um desafio já que vivenciamos em nossas escolas uma razão
instrumentalizada e fechada quase totalmente ao “novo”. Como nos apresenta Ruiz
e Zancanaro: “O pragmatismo, muitas vezes, determina o pensar nesse lócus e os
fins acabam por justificar os meios, valorizando-se mais os resultados
estatísticos do que o processo em si mesmo.”[2]
O texto Racionalidade
comunicativa na filosofia de Jügen Habermas nos diz assim: “O projeto de emancipação
humana via razão instrumental implicou numa manipulação dos recursos naturais e
numa reificação do próprio ser humano. Sérias foram as consequências disso para
a contemporaneidade, como por exemplo, a questão do aquecimento global e da
clonagem humana.”[3]
Precisamos a partir de uma ética de corresponsabilidade, repensar nossas falhas
e enfrentar nossos desafios, não mais, como bonecos manipuláveis, mas sim, como
protagonistas de nossa voz.
Habermas com a teoria da ação
comunicativa inaugura juntamente com o conceito de mundo da vida “uma ética
fundamentada numa razão aberta ao diálogo, que se comunica de forma
performativa e consensual.”[4]
O que muito nos favorece na
prática de uma educação pautada na relação do eu com o outro. Onde a autoridade
não se dá no autoritarismos, mas numa legitimidade que se funda na busca em
alcançar o entendimento. Como nos apresenta José
Marcelino:
“Em síntese, podemos
dizer então que, para Habermas, a ação comunicativa surge como
uma interação de, no mínimo dois sujeitos, capazes de falar e agir, que
estabelecem relações interpessoais com o objetivo de alcançar uma compreensão
sobre a situação em que ocorre a interação e sobre os respectivos planos de
ação com vistas a coordenar suas ações pela via do entendimento.”[5]
Os conselhos escolares, como também, a participação das comunidades nesse processo, como parte da Educação e não apenas como grupos burocráticos regulamentadores e autoritários. Podem possibilitar, juntamente, com os próprios educadores a transformação que tanto desejamos. Por meio de uma participação mais viva, onde cada um traz consigo algo que acrescente no todo, uma humanização na relação e não teremos mas a frieza da “papelada e de decisões” meramente fora da vivência do todo.
“Uma ação pedagógica pautada na razão comunicativa
pressupõe um espaço onde todos os atores possam aferir suas opiniões, possam
realmente interagir com os seus pares, refletindo sobre as atitudes individuais
e coletivas. Dessa forma, os agentes educacionais não seriam meros receptores
de informações, mas sim sujeitos efetivos do processo educacional.”[6]
Essa participação resultará numa
cidadania participativa, e atuante no seio da esfera social, Nossos conselhos
escolares, assim como os gestores, por meio dessa proposta apresentada, de uma
teoria da ação comunicativa que visa a quebra da formação bancária, da instrumentalização
da razão, de uma centralidade autoritária outorgada pela falta de
comprometimento ou até mesmo pelo medo da coletividade pensante, poderá criar
base para a transformação da educação vigente. Um eclodir de uma nova visão de gerenciamento
educacional por meio da ação não mais externa, mas interna.
A educação precisa ser
comunicativa, vibrante, viva e não engessada pela necessidade de um
preenchimento de mão de obra para uma força de trabalho, não se pode educar
como se fosse uma fábrica em série, uma linha de produção cuja o objetivo está
na manutenção do status quo, pois se
continuarmos na busca só do interesse individual, deixaremos nossa principal característica
que é a de sermos seres de relação.
Referências Bibliográficas
CARMO, Ana Lídia Lopes do. Gestão Escolar. Disponível em: <http://www.infoescola.com/educacao/gestao-escolar/>.
Acesso em :28 de out de 2015
COUTO, Adilson Luiz Umbelino. Ética do
discurso segundo Jürgen Habermas. Mariana: Instituto de Filosofia São José,
2002.
FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade comunicativa na filosofia de
Jürgen Habermas. Blog, Pensamento Extemporâneo. Disponível em: <http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=412>.
Acesso em: 28 de out de 2015
PINTO, José Marcelino de Rezende. A teoria da ação comunicativa de Jügen
Habermas: conceitos básicos e possibilidades de aplicação à administração
escolar. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X1995000100007>.
Acesso em 27 de out de 2015
RUIZ, Maria José F..ZANCANARO,
Lourenço. Razão Comunicatica e Educação.
Disponível <http://coral.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/007e4.pdf>
Acesso em 29 de out de 2015.
* Bacharel em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Mariana e Lincenciando pelo Centro Claretianos. Professor de Filosofia do Ensino Médio e Ciber Cultura da Educação Integral da Escola Estadual Omar Rezende Perez,
[1]
PINTO, José Marcelino de Rezende. A
teoria da ação comunicativa de Jügen Habermas: conceitos básicos e
possibilidades de aplicação à administração escolar.
[2]
RUIZ, Maria José F..ZANCANARO, Lourenço. Razão
Comunicatica e Educação.
[3]
FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade
comunicativa na filosofia de Jürgen Habermas. Pensamento Extemporâneo
[4]
FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade
comunicativa na filosofia de Jürgen Habermas. Pensamento Extemporâneo
[5]
PINTO, José Marcelino de Rezende. A
teoria da ação comunicativa de Jügen Habermas: conceitos básicos e
possibilidades de aplicação à administração escolar.
[6]
RUIZ, Maria José F..ZANCANARO, Lourenço. Razão
Comunicatica e Educação. p. 5.